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Ricardo Almeida dá dicas sobre o traje do noivo em bate-papo

por Redação IC
29 jul, 2020

De terno a fraque, o estilista falou sobre a vestimenta ideal para os homens no casamento em live para a Inesquecível Casamento.

Texto Renata Rodrigues

No mercado de alfaiataria há 37 anos, Ricardo Almeida é referência nacional quando o assunto é moda masculina. Com a filosofia de entregar o melhor para os clientes proporcionando boa experiência no momento de vestir, hoje a Ricardo Almeida possui uma rede com mais de 450 colaboradores e lojas nas principais capitais do país, além de marcarem presença em diversas multimarcas e do e-commerce.

Em um bate-papo para a IC no Instagram, guiado por Fabiano Niederauer, Ricardo falou sobre o traje de casamento ideal dos noivos e deu uma sugestão interessante para os casais que estavam com a data marcada mas tiveram que adiar por conta da pandemia. Confira abaixo a conversa.

 

Ricardo AlmeidaInesquecível Casamento: Um casamento hoje, com Ricardo Almeida, é quase uma obrigação. Você começou o seu primeiro negócio em 1983, não é isso?

Ricardo Almeida: Em 83 eu fazia para várias marcas no Brasil. Atendia Private Label e fazia também pouca coisa da minha marca. Agora, que eu comecei eu mesmo fazer a marca Ricardo Almeida, loja, foi em 91. Aí eu pude fazer roupas para noivos sob medidas. Quando abri minha loja já abri fazendo sob medida.

Os noivos estão cada vez mais querendo Ricardo Almeida fazer o sob medida, e ao mesmo tempo, você tem também opções na loja que dão para fazer looks para outro noivo. Os looks de coleção, não é?

Ricardo: Todas as nossas lojas que temos no Brasil, atendem o cliente da cidade. Então, [as lojas] no Rio atendem o pessoal do Rio e perto. A nossa equipe, têm condições de atender sem necessariamente serem atendidas por eu pessoalmente. Eu consigo atender só em São Paulo, com hora marcada. É um trabalho diferente, no caso, quando eu atendo. Só atendo na loja Bela Cintra, com hora marcada e depois do meu expediente de trabalho na fábrica, então é no fim do dia.

As noivas têm aquela coisa de casar com branco e você colocou um noivo de terno branco, pensando num casamento de dia, na praia, muito estiloso e que fez sucesso. Como é para você na hora da criação, não ficar só na ideia tradicional do casamento?

Ricardo: Na realidade, quando chego a fazer alguma coisa assim, eu não trabalho impondo qualquer coisa. Eu dou opções para as pessoas. Então, pergunto se é de dia, a noite, se é a tarde, se é na praia e dentro do que a pessoa me disser, de onde vai ser o casamento e do horário, dou uma gama de opções de ideias. Tem pessoas que são mais arrojadas. Por exemplo, a pessoa que vai casar de branco é mais arrojada. Se é na praia é mais fácil ela casar de branco. Mas as vezes dá pra casar de branco até numa igreja, em São Paulo, ou no Rio ou em qualquer lugar. É uma ideia muito diferente do que as pessoas costumam fazer. Mas, a gente apresenta as ideias e a pessoa tem que estar confortável para “comprar aquela ideia”, vamos dizer assim. Há cinco anos, eu já falava das pessoas voltarem a casar de azul. E as pessoas não entendiam: não é cinza ou preto? Há uns oito anos, eu falava que fica mais legal quando, em vez de usar a gravata prata, o noivo usa a gravata branca. Assim fica camisa e gravata branca. A gente já mudou isso há oito anos, ninguém fazia tanto [casamento] com gravata branca. A gente procura mudar um pouco, mas sem exagerar. Sempre quero entender o quanto o noivo quer mudar. Posso até fazer uma roupa de casamento toda xadrez ou estampada, isso depende do DNA da pessoa.

É por isso que na verdade o DNA da sua marca está ligado ao ser estilista. Você tem uma coisa com sob medida, ou seja, você vai traduzir o estilo da pessoa para um look que você acha que combina com a pessoa, certo?

Ricardo: Isso. Já fiz [terno] até com calça de couro e um paletó diferente, mais longo, porque o cara andava muito de motocicleta. Faz muito tempo, isso deve fazer uns 14 anos, não me lembro certinho como eu fiz, mas lembro que fiz alguma coisa bem diferente pensando dentro do mundo dele. A gente quis fazer a calça de couro em vez de terno normal, porque ele nunca usava terno e não queria saber de terno, então [pensamos]: vamos fazer diferente.

Falando em fazer diferente, estávamos conversando semana passada, por esse momento que estamos vivendo né. Você deu uma ideia que tem tudo a ver, que é muito positiva para o momento. Os casamentos estão sendo adiados – não estão sendo interrompidos ou cancelados, estão sendo adiados – pois o sonho de casar permanece e pode até ser maior. As pessoas estão ávidas em estar com as pessoas que amam, seus amigos e familiares, celebrando. Comente sobre a sua ideia para quem estava com casamento agendado.

Ricardo: Sempre costumo falar que do limão a gente tem que fazer a limonada. Então, como veio a pandemia e muitas pessoas pensaram “ah eu ia me casar agora em maio e agora não vou poder mais casar?”, eu penso diferente. Acho que se a pessoa marcou em maio, junho ou julho, o mês que foi, e não dando para fazer festa, [a minha ideia é que] façam o casamento [no civil]. Depois, no ano seguinte, na mesma data faz a festa para os amigos. Onde eles ganham? A festa de casamento sempre é muito desgastante para os noivos, né? (…) Passem a viver à vida a dois e faz a festa de casamento ou na mesma data depois de um ano ou daí a seis meses. Que assim eles passam a fazer a festa para os amigos e deixam de ter aquele compromisso, perdem aquela cobrança muito forte que a noiva tem em cima dela e fazem uma festa mais relax. Assim a festa é para os noivos estarem com os amigos, então, se a festa for até as sete ou às 10 da manhã, eles já tiveram a lua de mel e [no fim] aproveitam que vão ter dois dias de casamento: o dia que ela quis do casamento e o dia da festa (…). Acho que é uma solução boa para o momento que a gente está vivendo.

Coloquei na tela uma imagem de um noivo de azul com uma gravata branca. Você considera esse look como tradicional?

Ricardo: O azul ficou muito em alta de quatro anos pra cá. Você pode ter até um azul mais forte, não precisa necessariamente ser um azul-escuro, depende muito da personalidade do noivo e de como ele quer fazer a festa. Agora, o azul, realmente, voltou com muita força já há um tempo. O cinza era muito forte. O que eu gostava mais era o preto, eu indicava muito para fazer casamento de preto, sendo o noivo de preto porque muitas das vezes padronizava também com todos os padrinhos (…). Mas o azul, realmente, acho que o tom de pele das pessoas fica mais bonito e eu acho muito interessante o azul. Isso não quer dizer que também não dê pra casar de cinza ou de preto que também ficam muito bom. Depende muito do noivo, logicamente, do lugar e da pessoa.


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Outra coisa que também tem acontecido é a gravata combinar com a cor do vestido das madrinhas. Você acha que isso é legal? Ou acha que isso engessa demais?

Ricardo: O que eu faria: deixaria a noiva resolver. Acho que toda a festa de casamento é muito mais dirigida para a noiva do que para o noivo. Ao meu modo de ver, isso deveria ser uma coisa que a noiva decide. Muitas vezes as pessoas me perguntam se podem usar isso, [respondo que] a festa é tua, você usa o que você quiser (…). Então, nesse dia a noiva é a dona. Se ela preferir a gravata combinando com a pantone das madrinhas ela pode pôr a gravata do noivo combinando (…). Acho que não tem uma regra disso combinar com aquilo. A única coisa que eu falo é: quando você for casar, o importante é você fazer terno. Porque terno é o traje completo. O que é terno? Terno é o paletó, a calça e o colete. São três peças. Porque o noivo deveria usar o colete? Primeiro para ele estar com o traje completo, que é o traje completo social. Segundo, para ele estar diferente do dia que ele vai trabalhar que ele sai de costume para trabalhar, (…) eu deixaria só para o noivo. Se quiser colocar no pai da noiva, coloca no pai do noivo também. Mas acho que é melhor só o noivo de colete. Se na festa, ele sentir calor e tirar o paletó, ele estará com colete que dá um acabamento diferente dos convidados que estarão só com a camisa. Então, são pequenos detalhes que acabam fazendo a diferença.
E mesmo na praia, eu recomendo a usar o colete. Porque você vai tirar o paletó na praia e você estará com o colete que pode estar aberto, solto, descontraído mas você estará com a cara do noivo. Não é que o colete vai te esquentar. E também não é regra, eu ponho como sendo interessante para ele não ficar igual aos convidados depois. Isso é uma coisa que eu não abriria mão. Acho interessante a pessoa ir de terno.
Outra coisa que muitas vezes eu falo é sobre fraque. O nome da roupa fraque, que chamamos aqui no Brasil, é Morning Suit, uma roupa para você usar até seis horas da tarde. Por isso que os casamentos na Europa, principalmente, são feitos de dia. Você pode ver qualquer filme que tem casamento na Europa, que eles são feitos de dia e que eles estão de fraque. Aqui no Brasil os casamentos acontecem à noite.
Segundo problema do porquê eu não gosto de fraque: os padrinhos acabam alugando o fraque. Então, muitas vezes eles vão alugar uma roupa que não vai vestir tão bem pra ele, não é a roupa que ele vai gostar tanto e você não consegue tanta coisa boa num corpo de várias pessoas diferentes. Se for com costume (ou terno) os padrinhos, vão ter mais facilidade de, às vezes, já ter essa roupa no armário. Ele não vai ter que gastar. E segundo, principalmente nos dias de hoje, o noivo que casa de terno, que é com o colete, se ele comprar um jeans, um tênis, uma polo, ele pode depois pegar a calça do terno dele e pôr com tênis e com a polo e ele criou um outro look; ele pode tirar o colete e usar um costume, o paletó e a calça para uma outra festa ou um outro casamento que ele vá. Pois é só ele ir mudando a cor da gravata e já virou uma outra coisa. Então, ele pode pegar o paletó, o costume, e usar com uma calça jeans. E ele desconstrói a roupa do casamento dele e cria outros dez looks diferentes com essa roupa do casamento. O gasto que ele vai ter vai render, enquanto que se ele fizer um fraque ele não vai ter essa condição. Sempre oriento também, que eu acho melhor as pessoas casarem de terno. Vão gastar menos e vão aproveitar mais a roupa, depois.

A ideia é excelente, inclusive você fez pra mim, no Prêmio da IC, que a gente fez aqui na Cidade das Artes, um Black Tie, você fez o meu smoaking e a ideia é que o traje vira um terno.

Ricardo: Se a pessoa não quiser casar de terno, casa de smoaking. O smoaking é uma roupa feita para festa. Quando criaram o smoaking, na verdade, ele foi criado para as pessoas fumarem, por isso chama smoaking. Eles faziam festas para as pessoas fumarem. Começou o homem e a mulher com cores iguais, azul clarinho, ou verde-água (…), depois de um tempo, eles acabaram padronizando fazendo em preto para facilitar. E aí o smoaking virou preto, só que é uma roupa para festa. Nos EUA, fazem muitos casamentos de smoaking. Se a pessoa quiser sair do terno, tem [a opção do] smoaking.

Se o noivo quiser casar de smoaking é necessário que todos os padrinhos estejam de smoaking também, por se tornar uma festa Black Tie, na sua visão?

Ricardo: Eu, Ricardo, prefiro fazer uma festa que nem ‘O Poderoso Chefão’, todo mundo de smoaking. Se for pra pôr smoaking, vamos por todo mundo de smoaking. Acho que fica uma festa muito interessante. E hoje tem smoakings que você faz diferentes (…). Eu gosto porque é diferente do que todo mundo costuma fazer e eu sempre gosto de fazer coisas diferentes do que todo mundo costuma fazer. Então acho ótimo o do smoaking. Agora, logicamente, o [casamento] de terno vai aproveitar mais a roupa.

Pergunta de seguidor: o que você acha da gravata floral? O meu noivo quer vestir um terno marsala com lapela preta e calça preta.

Ricardo: Seria um smoaking isso aí. O marsala é muito legal, é uma cor muito incrível, até ia citar isso. Que dentro dos ternos hoje, o marsala fica muito incrível e é uma cor pouco usada. Agora, trabalhar o marsala com a lapela preta já virou um smoaking. Acho bem interessante. É legal porque tem vários jeitos de se fazer um smoaking. Aí nesse caso, você pode até falar que o restante da festa não vai precisar ir de smoaking porque você está fazendo um smoaking diferente, que é uma roupa para o noivo. Mas se for dentro do smoaking preto normal, eu falaria para todo mundo ir de smoaking. Se for diferente, eu até preferiria que todo mundo fosse de smoaking e eu, o noivo, tivesse um smoaking diferente de todo mundo.
Tem uns smoakings que a gente faz [na Ricardo Almeida], em marsala, em azul, com microdesenhos em preto, a lapela preta e a calça preta. Você estará diferente de todos os outros convidados que estarão de smoaking, então se cria um smoaking diferente para a pessoa.

A verdade é que já há algum tempo o noivo está se tornando também protagonista da festa dele. Os noivos estão mais vaidosos, no sentido geral. Tem realmente um padrão no terno, a altura que tem que ficar? Dá essa dica para o pessoal, para eles mesmos se policiarem de qual é o tamanho ideal da camisa com o paletó, a altura do paletó em baixo na cintura. Fala um pouco de altura pra encontrar o corte Ricardo Almeida.

Ricardo: O que a gente visa nas nossas roupas é querer deixar as pessoas mais magras e mais longilíneas. A gente sempre se preocupa muito em não deixar as mangas muito largas. Principalmente hoje, que o cumprimento do paletó encurtou, como o comprimento das calças também encurtaram – as bocas diminuíram. Antigamente, o comprimento do paletó, em baixo, você pegava com os dedos. Hoje é diferente, é uns quatro ou cinco centímetros mais curto. Se quiser mais moderno, é mais curto ainda. Logicamente depende de pessoa pra pessoa. O que eu mais recomendo hoje é no cumprimento de um e meio mais curto ou uma variação em cima disso aí.
O paletó hoje está mais curto, você logicamente tem que tomar cuidado de não usar uma manga muito larga e um corpo muito largo porque a hora que você encurtou o paletó se você deixar ele muito largo, você vai ficar quadrado (…). Então, tem que tomar um pouco de cuidado de ter essa medida que valorize a pessoa. Os ombros têm q tomar cuidado também pra não ficarem muito grande, imagina você trabalhar com uma roupa slim e o ombro muito largo, vai ficar um pouco esquisito.
É sempre bom se informar bastante com vocês, na IC, na internet, dar uma pesquisada. (…) É muito legal olhar fotos de outros casamentos que já aconteceram para ver se você identifica com aquilo daquele jeito ou não. (…) [O ideal é] fazer uma pesquisa dentro da ideia da pessoa e de ideias novas. Acho sempre bom as pessoas procurarem não fazer igual a todo mundo.

Voltando ao assunto do colete, o colete é uma coisa que primeiro diferencia o noivo. Os convidados podem estar com o costume. O noivo se diferencia, naturalmente, porque são três peças. Quando você pega uma foto de um noivo com a camisa pra fora, gravata na cabeça… Te dá um aperto ou você acha legal?

Ricardo: Acho que a festa dele, tem que se divertir. Se rasgar a camisa, cortarem a gravata, se chegar sem roupa em casa… Acho que tem que se divertir, tem que ser feliz (…). Eu não me apego não. Não precisa ficar muito arrumadinho. Ele estando arrumado na hora do casamento em si, ok. Festa é festa (…), acho que não precisa enlatar. Cada um faz do jeito que acha que é bom pra ele.

Pediram para você falar um pouco sobre o traje do noivo num casamento urbano, só que em um espaço fechado e de dia, se muda alguma coisa.

Ricardo: Quando você faz um casamento de dia você pode ir para cores não tão fechadas. Você pode ir para um cinza mais leve, não tão fechado, você pode ir para um azul não tão escuro, pode por um azul um pouco mais forte. Você pode clarear um pouco, já que é de dia. São opções que tem que ser conversada na hora para ver até quanto o noivo também fica a vontade, porque muitas vezes não adianta só a noiva querer. É preciso saber se o noivo também vai estar à vontade. Eu sempre falo que a gente não pode nunca fantasiar a pessoa do que ela não é. Ela também tem que ter o eu dela, junto na identidade das coisas. E a gente tem que tentar deixar todo mundo feliz.

E na praia? Tem uma tendência de praia para cores mais claras e hoje vejo que as pessoas estão mais despojadas no sentido de ter usar gravata, ou seja, elas estão evitando. O look da praia na cabeça do Ricardo, o que é legal?

Ricardo: Na praia eu gosto muito da ideia de usar o linho, que é muito legal. Eu pessoalmente adoro a festa de casamento na praia, todo mundo de branco. Acho muito legal. É uma festa que dá uma paz, uma energia muito gostosa. A gente faz muito casamento na praia com o noivo de azul-claro, que fica incrível também. Muitas vezes os padrinhos de blazer azul-marinho, calça caqui e camisa branca e sem gravata; o noivo de azul-claro, também pode estar sem gravata, com o colete, o paletó e a calça. Uma roupa com uma cor mais clara se for na praia, não um azul-marinho.

A tendência então é usar uma cor mais clara e se quiser ir sem gravata é bom ir com colete, né?

Ricardo: Na praia, eu iria sempre com uma cor mais clara. O colete eu sempre usaria, também na praia. Você não vai ficar de paletó [o tempo todo]. Depois, você estará só de camisa e igual aos outros convidados. Não tem problema estar sem gravata, mas o colete sempre recomendo. Porque mesmo na praia, é legal e não é que esquenta. A hora que você sentir calor, você tira o paletó e estará de colete, camisa e calça, que fica incrível. Não precisa estar com o colete abotoado, fica despojado e fica diferente dos outros.

Você acha que o noivo também pode ficar sem meia?

Ricardo: Na praia com certeza o noivo estará sem meia.

E numa igreja tradicional, você acha que tem que ficar com a meia?

Ricardo: Aí entra aquela história: precisa ver até quanto o noivo aceita isso ou não. Por exemplo, na Itália todo mundo usa a calça mais curta, a boca é menor, a calça é curta mesmo, aparecendo um pouco a canela, aqui no Brasil muita gente ainda não se acostumou. Então, o que eu falo: eu posso ir até isso [um limite], mas eu preciso saber se o noivo compra essa ideia e se o casamento também permite isso. As vezes o noivo pode comprar mas os pais são muito tradicionais e não querem isso, ou até a noiva é muito tradicional não quer. Procuro nunca agredir ninguém. Tento fazer de uma forma que todo mundo fique feliz. Vamos chegar até um ponto em que todo mundo ‘tá’ bem. A maior preocupação pra mim é essa.

Sobre o colete, é obrigatório ser do resto da cor do terno? Ou seja, pode ser o colete de uma cor e o paletó e a calça de outra?

Ricardo: Eu particularmente prefiro tudo do mesmo tecido. Lá fora tem muita gente que acha legal ter o colete diferente do terno, tem que tomar um pouco de cuidado. Acho um pouco carregado. Depende muito se você conseguir um tecido que tenha essa informação mas muito sutil, para não ficar carregado (…). Tenho um pouco de ressalva pra fazer isso. (…).

Existe um tipo ideal de tecido para o terno de casamento ou pode inovar no tecido também?

Ricardo: O tecido mais nobre que a gente tem é a lã fria, é o tecido mundial mais top. A lã não esquenta, na verdade a lã é térmica. (…) Tenho até um tecido que brinco que parece que já vem com ar-condicionado dentro, uma lã super 170 da loro piana que quando você põe a calça está gelada, é muito engraçada. Ela é 85% lã e 15% seda, então é muito leve (…). Hoje, seria o melhor tecido. Na praia, prefiro o linho porquê tem a característica, pra mim, de uma roupa tropical de praia. Depende do lugar que você vai, (…) apresento várias alternativas e ai deixo para o dono resolver.

No ICWeek do Rio e de Curitiba, no ano passado, teve um look montado para a noiva, que era perfeito para casamento no civil. Era um branco longilíneo, bem reto, bem bonito e elegante. Você tem essa coisa de ter um look pensado pra noiva casar no civil, por exemplo, com uma roupa Ricardo Almeida?

Ricardo: A gente tem uma linha de alfaiataria muito forte. Então, se ela quer ir de blazer, calça e um terno diferente, a gente também consegue fazer. É que muitas vezes eu não tenho todo esse tempo de fazer o feminino sob medida, que nem eu faço no masculino. De setembro pra cá, eu assumi o feminino todinho, refiz todas as minhas modelagens, então estou fazendo uma mudança. São detalhes que fazem a diferença. Não é que a minha roupa que está na loja está ruim, ela tá boa, mas vou fazer melhor. Há quatro anos quando fiz todos os moldes – as pessoas não sabem mas faço muito dos nossos moldes –, então eu dei os moldes pra nossa equipe de criação e eles foram modificando. Como eles vão mexendo, eu perdi um pouco a linha do que fizeram. Então eu preferi fazer tudo de novo e estou repaginando toda a minha modelagem de novo, não que a anterior estivesse ruim, mas vai ficar melhor.

Um processo de melhoria contínua. Tem que ser assim, quem quer destaque tem que se cobrar o tempo inteiro.

Ricardo: Tem que se cobrar o tempo inteiro. A gente nunca pára, a gente sempre compra equipamento, máquina nova, quer mais precisão nisso naquilo. A gente não mede gasto, não só gasto de dinheiro como de tempo, pra fazer melhor. Se sair uma máquina melhor ainda vamos lá, vamos comprar e ter a máquina melhor ainda. Vai perder tempo mudando num molde que já tá bom? A gente mexe num molde que já tá bom. Por incrível que pareça, as vezes eu perco um ano tentando fazer um molde melhor. Porque aí você tem que fazer melhor ainda, ai você faz testes (…) é muito trabalhoso, é muito complicado.

Não vejo uma pessoa que cresceu, que tenha algo grandioso, com uma marca valorizada que não seja exigente demais com seu negócio e consigo mesmo em primeiro lugar (…). Mesmo vendo que tem um corte legal, o Ricardo quer mexer porque ele quer buscar a perfeição o tempo todo. É o aprimoramento contínuo né? É investimento, é valorizar a sua marca.

Ricardo: A moda muda. O que acontece as vezes, por exemplo, a pessoa faz um terno com o alfaiate e durante cinco, 10 anos com o mesmo molde. Não, [o certo é] ele mudar. Na hora que você mexe no cumprimento, você vai ter que mexer na manga, na cava e em outras coisas. É que nem a calça. Imagina você usando essa calça mais curta que hoje você pega e usa, com a boca do tamanho que você usava antes? Então, você vai pôr a boca a 20, 21, curta? Vai ficar estranha. Então você vai encurtar a roupa, você vai diminuir a boca, vai usar a boca 16,5, 17 no máximo. É um equilíbrio pra você conseguir ter essa ideia nova. Não é só encurtar. A hora que você encurta também tem que mexer na boca. Aí mexeu na boca, também tem que mexer no joelho. (…) Tem uma série de coisas. Essa mudança de moldes, tem que ter um equilíbrio. Não é só acertar a modelagem, tem um equilíbrio pra você olhar, uma harmonia que você olha e fala “tem um desenho”.

Como estão as lojas nesse momento? Atendimento online, entrega delivery?

Ricardo: A gente fez o online depois de quinze dias do início da pandemia, então já temos uns 45 dias online [a entrevista foi em 01 de junho]. Eu particularmente acho muito importante as pessoas irem a loja, não irem só no online. Para encostar no tecido, pôr a roupa, ver o caimento dela, como que é na pessoa. Porque online, muitas vezes ele olha e não pegou o tecido, não viu o corte, não viu o acabamento, não viu realmente qual é a cor. O online ajuda bastante, principalmente camiseta, polo, jeans, tênis, sapato, mas você perde muitas vezes a consultoria das pessoas que trabalham com a gente. Todos que estão com a gente gostam de trabalhar com o que estão trabalhando. Então procuram orientar. A gente passa sempre [a ideia de que] não deve empurrar a mercadoria. A gente mostra a opção, se ele achar que ele deve comprar, ele vai e comprar; se ele não achar, ele não compra.

 

Foto: DivulgaçãoFoto: Divulgação
 
 

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Redação IC

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