O Legado Pawlick

por Redação IC
20 mar, 2024
O Legado Pawlick

Requisitada pelas mais elegantes mulheres brasileiras, dona de um talento nato e dom herdado de pai para filha, entrevistamos a renomada estilista e empresária Luhana Pawlick

Entrevista por: Ellen Bessa

Luhana é filha do ícone da Alta Costura brasileira, Gesoni Pawlick, e segue com  maestria o legado deixado pelo pai. O estilista autodidata, nasceu em Santa Catarina e percorreu um longo caminho até figurar entre os nomes da Alta Costura do país.

Aos 32 anos, com a esposa grávida de Luhana, aliou a necessidade de ganhos extras com o gosto pela moda. Como havia trabalhado em uma empresa têxtil, uniu seus conhecimentos à sua criatividade e iniciou sua carreira na moda de luxo sob medida. Em 1979, Gesoni começou a dedicar-se exclusivamente à moda. Em 82, toda região já conhecia o nome do estilista e a qualidade que ele significava.

Foi ganhando reconhecimento por seus vestidos de noiva e red carpet que Gesoni Pawlick conquistou o coração de todo estado de Santa Catarina e passou a atender em seu atelier com 400m2 em 1985. Com o passar dos anos, tornou-se sinônimo de bom gosto e requinte na moda da região sul do país, e ganhou notoriedade por todo o Brasil, conquistando inclusive clientes em algumas partes da Europa.

Arrojado, e com uma equipe de 50 pessoas, em 2004 abriu a Gesoni Pawlick Store, uma loja elegante e luxuosa onde vendia e alugava vestidos de noiva e festa, além de ternos e smokings. A carreira foi uma linha crescente! Premiado com inúmeros prêmios pelo Brasil, inclusive como melhor vestido de noiva pela Inesquecível Casamento, o catarinense sempre foi um querido e figurinha carimbada em todas as edições da revista e no IC Week.

Falecido em 2017, nos quase 40 anos de carreira, Gesoni esteve ao lado de sua esposa – braço direito na produção – e nos últimos 18 anos, tinha no backstage sua filha, Luhana Pawlick, que se formou em moda para seguir os passos do pai. Conversamos com Luhana para saber sobre o legado de Gesoni em sua arte e em sua vida. A entrevista é exclusiva e você confere agora!

Luhana Pawlick | Foto: Marcelo Schmoeller

Luhana Pawlick | Foto: Marcelo Schmoeller

 

VOCÊ JÁ TRABALHAVA COM SEU PAI E AGORA ESTÁ À FRENTE DO NEGÓCIO?

“Sim… trabalhei em todos os setores do atelier e da Maison Pawlick (loja de locação e venda). Em 2010 assumi a gerência da loja, e como sempre gostei desse contato com as pessoas, continuava a atender as clientes vez que outra. Sempre me falavam que eu era ‘a versão feminina’ de meu pai, tanto pelo atendimento, quanto pela parte criativa em customizações que fazia na hora nos vestidos já prontos na loja. Em paralelo a isso, cuidava de toda a parte dos desfiles e eventos que ele  participava. Em 2012 já auxiliava na criação das coleções e no backstage como um todo.

Quando me formei em Moda, e comecei a atender as clientes na sala ao lado da dele, conversávamos muito sobre os atendimentos, tecidos novos, bordados diferentes… tudo!, e quando eu não estava atendendo ficava de assistente dele, ajudando nas provas, mostrava as rendas e tecidos para as clientes, e no período que estávamos na produção, ficava colada nele aprendendo tudo que conseguia.

Passou um tempo ele me chamou na sala dele e disse que eu estava pronta, que era pra seguir com a minha marca e minha assinatura. Ele tinha uma agenda frenética, entregávamos mais de 50 vestidos por mês, e então ele me indicava pra todas que não conseguiria atender. 

Montei uma pequena equipe e comecei com a marca Luhana Pawlick em 2015 usando a mesma estrutura… éramos grandes parceiros. Nunca imaginávamos que ele faleceria 2 anos depois. Quando isso aconteceu, assumi também como diretora criativa da grife Gesoni Pawlick, e minha mãe, que era o braço direito dele na produção, ajudou muito naquele período.”

Luhana com a noiva Vanessa | Foto: Casal Mansano

Luhana com a noiva Vanessa | Foto: Casal Mansano

COMO FOI O REBRANDING?

“Até abril de 2018 levei as 2 maisons em paralelo, Luhana Pawlick e Gesoni Pawlick. Mas preferi unir as 2 trajetórias em uma logomarca única. Meu pai sempre vai estar presente comigo. A marca Pawlick veio desse sentimento… além de levar ele no meu coração, estamos entrelaçados no logotipo, o ‘L’ e o ‘G’, formando o ‘P’ de Pawlick, que é uma das maiores coisas que ele poderia ter me deixado.”

COMO VOCÊ ANALISA HERDAR O NOME E A TRAJETÓRIA DELE? QUAIS FORAM AS MAIORES DIFICULDADES PARA ASSUMIR O TRABALHO?

“Na realidade o sobrenome ajudou pouco no início, perto de tamanhas especulações e descrenças que por causa da qualidade, requinte e genialidade que ele remetia, foram criadas frente ao meu trabalho naquela época. Meu pai era renome na alta moda brasileira, e poucas pessoas acreditavam que eu conseguiria dar continuidade ao trabalho dele e entregar os mais de 50 vestidos que tínhamos em contrato com a mesma qualidade e sofisticação. Foi um momento nebuloso para a marca.

Mas assim que saiu o segundo, terceiro vestido de noiva e mais 2 ou 3 de vestidos de festa na imprensa, os elogios e a confiança foram aparecendo e crescendo.

Fora essa turbulência inicial, as dificuldades foram várias!  A começar pelo lado humano, sentimental de filha, em todos os dias eu entrar naquela mesma sala que ele atendeu por 30 anos, sentar na cadeira dele, que eu sempre via-o atendendo e ter que ser forte, controlar as emoções, e fazer um atendimento profissional para aquela cliente que ali estava.

Também encontrar uma pessoa que fazia o papel que eu desempenhava com ele, pois nos entendíamos só no olhar, nossa ligação era muito grande.

Sem falar que muitas vezes, eu me preparava psicologicamente e começava o atendimento, mas aí eram as clientes que se emocionavam e começavam a chorar… me vendo ali, no lugar dele,  dias após o falecimento, impressionadas com a semelhança nas feições e no atendimento. Aí comentávamos algo de alegre, um episódio divertido dele, e seguíamos o processo de criação recordando as histórias engraçadas dele.

A trajetória dele daria um best-seller…, quem sabe do começo da carreira dele, de onde ele veio, e até onde ele foi, e mais, o tempo que se manteve como referência em vestidos de noiva e gala, entende o orgulho que tenho de fazer parte da história dessa maison icônica. Por mais que tenhamos unido as duas marcas, o legado e o nome dele serão lembrados por muito tempo.

O QUE SEU PAI DEIXOU COMO “HERANÇA”, COISAS QUE VOCÊ LEVARÁ PARA SEMPRE? TANTO NA VIDA QUANTO NO TRABALHO.

Meu pai sempre dizia que pouco importava o quão alto ele chegou, o que valia era o caminho percorrido. Com isso, sinto que deixou antes de tudo dignidade e humildade, pois sempre foi correto e verdadeiro como pessoa.

Na moda: o legado, a paixão pelo trabalho, o amor que ele colocava em cada peça… A qualidade em cada detalhe. A eu sempre olhar e interpretar que “tipo de mulher” é cada cliente, qual a essência dela, para refletir isso na roupa. Tal qual a frase que ele falava, e se perpetuou: “Antes de vestir uma mulher, você precisa entender sua alma!”

Acredito que meus vestidos sob medida refletem isso… eles interagem não só com o corpo da mulher que o solicitou, mas com o sentimento, com a personalidade dela.

QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DA MARCA HOJE?

“A marca traz como premissa o que aprendi com meu pai e que destacou ele tanto tempo na alta moda brasileira: a qualidade. É o que mais escuto das clientes que já costuram conosco há muito tempo. Já as novas clientes vem em busca da precisão no corte e caimento já tradicional da alfaiataria que aplicamos no atelier, o que forma o tão falado e desejado ‘savoir-faire’ da Pawlick. A questão de entregarmos um vestido estruturado com apenas 2 vindas ao atelier, também sempre é mencionado.

Fora isso tudo, busco sempre fazer algo inovador, inesperado mas concreto, emocional porém crível, real… uma peça que é bela e delicada mas vestível, que quando a cliente usa, a enaltece.

Atualmente, nesse mundo globalizado, a moda (e mesmo a vertente da Alta-Costura) está muito moderna e dinâmica, a não ser quando você faz uma coleção, onde a maioria é atrelada a algum tema. Por isso procuro fazer algo atemporal que transpire elegância e sofisticação sem ser artificial, e com isso conseguimos atender aqui na Pawlick, noivas de estilos bem diferentes.

Luhana com suas criações em editorial

Luhana com suas criações em editorial

ME CONTE UM POUCO DOS VESTIDOS E DA EQUIPE.

“Cada um de nossos vestidos é único, exclusivo, modelado no corpo com processo de ‘moulage’, são confeccionados um a um por uma equipe que usa técnicas  da alta-costura europeia, alguns deles trabalharam com meu pai nos últimos 30 anos. Temos uma sinergia enorme, com isso  eles conseguem compreender minha ideia e visão, e mais do que isso, sentir o espírito de cada projeto a partir dos croquis que crio. Acompanho a confecção de cada um dos vestidos, para oferecer a máxima qualidade e perfeição possível em cada peça. 

COMO VOCÊ ANALISA O SEU TRABALHO HOJE? SEGUE O ESTILO CRIADO PELO SEU PAI OU ESTÁ COM EXCLUSIVAMENTE O SEU ESTILO?

“Se por um lado ser a diretora criativa das 2 marcas ao mesmo tempo foi cansativo e desafiador, por outro tive um enorme crescimento pessoal e profissional.

Levo comigo toda a bagagem de aprendizado, detalhes, dicas e fundamentos do meu pai, como a qualidade e dedicação em todo processo de confecção, além do amor e paixão pelo trabalho.

Vejo o estilo ligado mais a forma que recepciono e atendo, que conduzo o processo de criação com a cliente. Porque como estamos falando de uma peça autoral, exclusiva e sob medida, o estilo é único para cada cliente, pois a essência dela prevalece a tendência. Procuro moldar as tendências ao estilo e características de cada mulher para tornar cada vestido, de fato, personalizado, que reflete a personalidade dela.”

COMO É SUA AGENDA? QUANTO TEMPO ANTES DO EVENTO TEM QUE AGENDAR UM ATENDIMENTO NO ATELIER E QUANTO TEMPO UMA PEÇA DEMORA PARA FICAR PRONTA?

“Hoje atendo no atelier e participo de eventos e palestras, com isso a agenda fica apertada.

Geralmente você só consegue vaga para atendimento comigo no atelier para daqui 2 meses, salvo alguns encaixes e a lista de espera. Por isso, pedimos que entrem em contato conosco agendando um horário o quanto antes possível.

Como base, indicamos que o 1º atendimento seja com no mínimo ~6 meses de antecedência para vestidos de noiva e ~4 meses para festa. Isso é importante principalmente para as clientes de outros estados que gostam de encaixar os voos de ida e volta no mesmo dia, e com isso, precisam ser atendidas em um horário específico.

A confecção em si varia muito. Vestidos lisos, com alguma aplicação de renda levam em média 4 dias para confeccionar, fora a criação e prova. Vestidos bordados já levam ~2 semanas. Mas também já levamos 28 horas para criar, confeccionar e entregar um vestido, como o da ex Primeira-Dama, Michelle Bolsonaro, usado no funeral da Rainha Elisabeth, por exemplo.

Já para atendimento com as meninas na Maison, já é bem mais tranquilo e consegue um horário pra mesma semana muitas vezes.”

Vestido feito por Luhana Pawlick | Foto: Fabiano Patricio

Vestido feito por Luhana Pawlick | Foto: Fabiano Patricio

Vestido feito por Luhana Pawlick | Foto: Marcelo Schmoeller

Vestido feito por Luhana Pawlick | Foto: Marcelo Schmoeller

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Redação IC

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