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A beleza e classe das capitais da Áustria e Hungria

por Redação IC
9 abr, 2018

Viena, na Áustria, e Budapeste, na Hungria, guardam belezas encantadoras. Cidades históricas e cheias de encantos, são destinos na europa que merecem uma visita.

Viena, um caso de amor imperial

Toda viagem, para onde quer que seja, reconta uma história. Cada vez que uma pessoa chega a um destino, revive, em algum grau, um pouco de tudo aquilo que já se passou naquelas terras. É uma construção presente, que inevitavelmente se interessa pelo passado, e acaba transformando o futuro. Não só da cidade ou país em visita, mas também do visitante. É como se apaixonar: você precisa estar aberto para a troca, deixar um pouco de si e absorver outro tanto do outro.

Foi com esse espírito de conexão que chegamos à Viena, um caso de amor à primeira vista. Para começar, as pessoas parecem muito felizes aqui. Caminhar entre ruas tão tranquilas e de beleza arquitetônica ímpar deve ser um dos motivos que explica a consultoria internacional Mercer apontar a capital austríaca como a cidade em que mais vale a pena se viver no mundo. Isso acontece há oito anos, em sucessivos estudos que avaliam a qualidade de vida em 230 metrópoles nos cinco continentes. Os pesquisadores levam em conta o clima político, social e econômico, o serviço de saúde, as possibilidades de educação, a infra-estrutura pública, as opções de lazer, a disponibilidade de bens de consumo e as condições de meio ambiente. Para além dos quesitos técnicos, paira no ar um sorriso perfumado de paz. É o que todo mundo deseja sempre, em casa e também quando está viajando.

Fotos Bruno DieguezFotos Bruno DieguezFotos Bruno Dieguez

Se olharmos para trás, lembraremos que nos livros de história este canto do mundo tem um papel majestoso. Ou melhor, imperial. A sombra do grandioso Império Áustro-Húngaro é fresca, e nada pesada. Foram mais de 600 anos sob o comando da dinastia dos Habsburger, que marcaram não só esta região da Europa Central mas toda a civilização ocidental. O cenário urbano ainda hoje é repleto de reflexos do reinado da imperatriz Maria Theresa no século 18 e dos 68 anos sob comando do último imperador Franz Joseph, morto durante a Primeira Guerra Mundial, após a qual surgiu a República da Áustria. Foi ele quem derrubou em 1857 os muros que rodeavam a cidade e tocou a construção da Ringstrasse, o imponente boulevard na forma de um anel que exala sofisticação, seja para compras em lojas refinadas ou um simples passeio de mãos dadas.

Tomara que a estadia de vocês também seja por aqui, é o mais recomendado para dias e noites em modo romance. Minha dica em particular é hospedar-se no Hotel Imperial, um clássico renovado que hoje é associado à The Luxury Collection da rede Starwood. São mais de 140 anos de hóspedes ilustres e o melhor padrão de serviço hoteleiro, uma experiência “royal” por assim dizer. Para se ter uma ideia, este prédio icônico construído como palacete privativo chegou a hospedar o nosso imperador D. Pedro II. Uma série de reformas manteve o requinte do hotel ao longo das décadas, sempre equilibrando a tradição vivida entre suas colunas com as novidades tecnológicas e o conforto de cada nova época.

Fotos Lukas Kirchgasser Fotos Lukas Kirchgasser

Para casais em lua de mel ou qualquer viagem romântica, uma boa pedida é reservar uma das Maisonette Suites, no último andar. Distribuída em dois pavimentos, chama atenção pelo pé direito alto, os ambientes espaçosos, luxo em detalhes e uma sacada com bela vista dos arredores. O serviço de mordomo dispensado à esta categoria é um charme a mais, daqueles supérfluos que fazem toda a diferença numa viagem a dois. Guardem um tempinho para explorar o hotel, seus salões e escadarias. Vale a pena solicitar um tour ao concierge, é uma boa forma de se ambientar com a própria história de Viena e dá até vontade de (re)casar aqui. Com ou sem festa, não deixem de experimentar o restaurante de todas as horas Café Imperial Wien e se deliciem a cada café da manhã com a imperdível Imperial Torte, marca registrada da casa criada em homenagem ao imperador Franz Joseph à época da inauguração do hotel. Para uma extravagância gastronômica, vejam brilhar a estrela Michelin do restaurante Opus.

Fotos Bruno DieguezFotos Bruno Dieguez

Passada a porta giratória do hotel, Viena é um convite a se flanar com calma. Em curtas caminhadas vocês chegam a Karlsplatz, Museums Quartier e Heldenplatz, apenas alguns dos muitos espaços deslumbrantes da capital austríaca. Na lista das atrações mais famosas também estão o Sisi Museum e o Schönbrunn Palace. Entre as ainda não tão conhecidas, as surpreendentes vinícolas em operação dentro dos limites urbanos, algo raríssimo em todo o planeta. São cerca de 676 hectares de área cultivada, com predominância para a produção de ótimos vinhos brancos. Taí um programa sob medida para lua de mel. Outro é explorar sem pressa a área verdade formada por jardins, parques e bosques, que ocupam quase metade do território. Vale tanto no friozinho de outono e inverno como nos coloridos meses de primavera e verão.

Fotos Bruno Dieguez

Seja qual for a direção, uma sugestão logística: adquiram o Vienna City Card, que dá acesso a todo o eficiente sistema de transporte público e traz dicas e descontos para um maior aproveitamento da cidade. Também é super útil baixar o aplicativo deste cartão do destino, assim como dar uma conferida nos tours temáticos do portal www.wien.info.

Fotos Bruno Dieguez

Entre um passeio e outro, paradas estratégicas para se alimentar com delícias repletas de memória. Programem sua rota para o centro histórico ser visitado perto da hora do almoço e parem no Lugeck, restaurante que fica na rua de mesmo nome e está instalado em um belíssimo prédio do século 14, em frente à estátua de Gutenberg. O cardápio é extenso mas a escolha de todos é quase única: Vienesse Schnitzel, ícone culinário local. O acompanhamento certeiro ao delicioso bife à milanesa com salada de batata é a cerveja da casa. Para sobremesa ou mesmo uma refeição completa, façam como os vienenses fazem há séculos: se joguem numa “kaffeehaus”, parte dos costumes daqui. Famoso, o Café Central Wien serve uma apfelstrudel que resignifica o que seu paladar entendia como torta de maçã. Só de escrever essa linha e lembrar daquele sabor deu água na boca, a mesma sensação que já tiveram Freud, Trotsky e outros célebres clientes do lugar.

Fotos Bruno Dieguez

Por falar na cultura dos cafés vienenses, ela é tão importante para a economia local que a associação de seus empresários organiza um dos mais badalados “balls” da cidade. A temporada de bailes começa sempre em 11 de novembro e inclui mais de 450 deles até o fim de fevereiro. O Kaffeesiederball reúne cinco mil pessoas em trajes de gala em vários salões do Imperial Palace com bandas ao vivo tocando diversos estilos musicais, apresentações de dança e muita valsa regada aos melhores rótulos de bebida. Participar de um deles é uma experiência única; pesquisem quais acontecerão perto das suas datas na cidade e usem o concierge do hotel para agendar hora em uma loja de aluguel de roupas, mais conveniente que carregar na mala seus super vestido e black ou white-tie.

Ainda na pauta musical-cultural, não dá para ir a Viena e não conferir ao menos um concerto ou uma ópera. A cidade abriga muitos eventos de estilos contemporâneos e vanguardistas ao longo do ano, mas o charme da música clássica ecoa mais alto. Entre os 50 teatros há quatro “opera houses” e uma programação robusta para além das emblemáticas Orquestras Sinfônica e Filarmônica de Viena. Lembrem que aqui nasceram artistas como Schubert, Strauss, Schoenberg e Berg e viveram outros como Mozart, Beethoven, Haydn, Brahms e Mahler. É mandatório ouvir e sentir acordes em um desses templos.

Viena é também berço de importante artistas visuais. Neste 2018, a cidade celebra 100 anos da morte de quatro deles: os pintores Gustav Klimt e Egon Schiele, o arquiteto Otto Wagner e o múltiplo Koloman Moser. Todos foram figuras-chave no desenvolvimento do movimento conhecido como Modernismo Vienense, que tornou a capital austríaca um hub de criatividade tão vibrante como hoje. Arte, literatura, arquitetura, psicologia, filosofia e todos os aspectos de uma sociedade em transformação estavam em ebulição com as mentes inquietas em ação naquela época. Sob o tema “beleza e abismo”, várias exposições e homenagens estão programadas para o ano todo. Entre os locais fixos, não perca o museu e a esplanada Belvedere – onde residem clássicos de Klimt e Schiele – e o pavilhão Otto Wagner – que detalha sua contribuição ao espaço urbano vienense em uma rica exposição organizada no antigo acesso à estação de metrô da Karlsplatz.

Uma das características mais marcantes deste destino é o orgulho com que os que nasceram ou vivem aqui falam de tudo o que Viena tem a oferecer. Depois de visitá-la, soa fácil deduzir o porquê: a cidade surpreende de forma orgânica. Talvez não seja a primeira opção de quase nenhum brasileiro que decide viajar para a Europa, mas não deveria escapar da rota de ninguém. E que seja em breve e mais de uma vez até. Voltar e revisitar lugares como Viena é permitir-se aprender novas nuances de uma mesma história, que fica mais gostosa e elaborada a cada nova vez que se conta. Se tanta gente bacana ao longo dos séculos aportou aqui e se deixou seduzir por ela, é você quem vai fica indiferente e de fora?

Fotos Bruno DieguezFotos Bruno DieguezFotos Bruno Dieguez

Budapeste com classe

Estar em Viena e olhar o Danúbio é uma tentação a navegá-lo e conhecer outro destino que o beira: Budapeste, capital da Hungria e também remanescente da riqueza dos idos do Império Austro-Húngaro. Lembra Paris, mas com sotaque e interferências dos anos de domínio soviético e estilo de vida comunista. A cidade é belíssima de onde e para quer que se olhe, seja do alto do Castelo de Buda ou da roda gigante fincada na margem de Peste. Uma dica prática: aluguem um Segway e percorram com um guia privativo as ruas de ambos os lados do rio; fica mais fácil de reconhecer a geografia e as histórias mais curiosas da cidade, para depois explorá-la no seu próprio ritmo.

Fotos Bruno Dieguez

A cadência da capital húngara inclui, necessariamente, circular entre edifícios imponentes e palacetes que atraem a mirada para o alto. Um deles, na rua Erzsébet, em Peste, chama atenção pelo entra e sai de pessoas. Não se trata do deslumbrante Parlamento ou do Teatro da Ópera, mas do hotel Boscolo Budapest, também conhecido como New York Palace. A movimentação não é apenas de hóspedes e funcionários, mas sobretudo de meros curiosos e clientes do New York Café, laureado pelo UCityGuides.com como o café mais bonito do mundo.

Beleza, de fato, há de sobra neste edifício. O famoso café é mesmo um charme, mas é o átrio interno do prédio que mais impressiona. Com pé direito superior a 20 metros de altura e teto que permite a entrada de generosa luminosidade natural, revela por dentro a torre que o destaca entre os vizinhos. Tal qual um imã irresistível, o espaço quase provoca torcicolos: é impossível adentrar o ambiente e não erguer o pescoço para o alto. Compondo o êxtase sensorial, flores frescas, lounges espaçosos e um piano em atividade ininterrupta convidam, ao menos, para um respiro e um café.

Fotos Bruno Dieguez

Fotos Bruno Dieguez

A quem se hospeda é reservada a vista superior deste “jardim” central. Os corredores de cada andar formam um “O”, com super espaçosos quartos e suítes voltados para cada uma das quatro faces externas. Nos interiores, decoração elegante contemporânea e um dos maiores e melhores banheiros da alta hotelaria europeia. Poder-se-ia não querer sair da acomodação – tamanho o conforto –, mas a energia pulsante do prédio influencia o aproveitamento de todos os espaços coletivos.

É curioso descobrir que o New York Palace não foi projetado como um hotel, função em voga apenas desde 2006, quando o grupo italiano Boscolo inaugurou a versão atual. Antes fora um edifício corporativo construído em 1894 como sede europeia da New York Life Insurance Company. Uma das maiores companhias de seguro do mundo, a empresa americana queria transmitir ao público dignidade, credibilidade e poder. O sucesso foi tão arrebatador que o café instalado no térreo e os salões de eventos privativos rápido conquistaram o apreço da alta sociedade e da intelectualidade locais. Os escritórios funcionavam nos dois primeiros andares e os funcionários moravam nos de cima.

O epicentro da vida cultural de Budapeste se estabeleceu no New York Café, com os principais jornais sendo editados ali mesmo e muitos artistas e escritores criando e discutindo suas obras entre xícaras de café, drinques e refeições. O espaço sofreu impactos com as guerras mundiais, mudou de dono, função e nome ao longo do século 20. Refloresceu nos anos 2000 cheio de referências ao passado.

Fotos Bruno DieguezFotos Bruno DieguezFotos Bruno Dieguez

As mesas do café voltaram a ser muito disputadas e a versão húngara do goulash é campeã de pedidos. Um dos antigos salões tornou-se o refinado restaurante Salon, agraciado com uma estrela no Guia Michelin. E o bar do mezanino ganhou o nome de Nyugat, uma homenagem ao lendário jornal literário que circulava por aquelas bandas e influenciou muito o pensar do início dos anos 1900. É um recanto discreto, perfeito para algumas taças de vinho tinto local e um brinde à essa encantadora região da Europa. Aliás, essa viagem dupla pelas capitais da Hungria e da Áustria, mais que um gosto de quero mais na mente, deixa uma certeza: mergulhar na história é apaixonante.

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Redação IC

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